Opinião

"Visão para quem precisa"

Por Vinícius Bierhals
Acadêmico de Medicina - UCPel

Ainda persiste, no País, uma grande mácula que envergonha os índices de desenvolvimento social da nação: o analfabetismo. Seja total ou funcional, aquele a quem se sonega o direito elementar ao estudo das letras, é alijado do exercício completo de sua cidadania, e sofre, na vida cotidiana, de complexas limitações. Não compreende plenamente uma receita médica ou tabela nutricional, não pode possuir CNH, e, há pouco menos de 40 anos, sequer dispunha de acesso ao voto.
A primeira infância é o período mais adequado para o processo de alfabetização. Nessa etapa, a neuroplasticidade facilita a formação de conexões neuronais, essenciais para a intricada associação de letras, sons e símbolos.
Sabe-se que o mundo vive hoje uma verdadeira epidemia de miopia. Especula-se que esteja relacionada ao uso prolongado de celulares e tablets e à pouca exposição à luz solar - e consequente queda na produção da dopamina, importante neurotransmissor.
Apartados, durante a pandemia, dos bancos escolares, e expostos à ampla distração nas telas de aparelhos eletrônicos, a cada dez crianças no 2º ano do Ensino Fundamental, somente quatro sabiam ler e escrever adequadamente, conforme aponta pesquisa do MEC, referente a 2021. Em 2019, eram seis.
Ora, como não relacionar a dificuldade visual com a alfabetização deficitária das crianças brasileiras? Promovido no âmbito da iniciativa "UCPel mais Saudável", o projeto "Vi-Vendo" há mais de 25 anos aplica testes de acuidade visual em escolas e outras instituições do Município. Com amplo apoio de empresários locais, o Vi-Vendo conseguiu, neste ano, realizar centenas de avaliações, bem como questionários acerca de hábitos e estilo de vida.
Em 2023, entre as crianças submetidas ao teste, alarmantes 23% possuíam alguma alteração visual. Não surpreendentemente, as taxas de uso excessivo de eletrônicos foram muito elevadas. Somado a isso, o pouco tempo ao ar livre, evidenciado pela falta de prática esportiva, deixa claro o quanto fatores ambientais da modernidade predispõem a distúrbios de acuidade visual e consequente piora nos índices de alfabetização. Apesar do imediato encaminhamento para exames oftalmológicos, as filas são longas: chega a um ano o tempo de espera para consulta com médico oftalmologista pelo SUS.
É de grande valia para os beneficiados poder contar com o "Vi-Vendo". Resta agora, identificado o problema, obter-se maior celeridade em atendimento especializado. Com toda certeza, urge enxergar o mundo com nitidez, e vivê-lo em sua totalidade.

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